Brasil conquista bronzes com Rebeca e Nory e faz o melhor mundial de sua história

06.11.2022  |    751 visualizações

Pela primeira vez, Ginástica Brasileira conquista três medalhas numa mesma edição da competição

Da Redação (SP) - O Brasil fechou de maneira magnífica o melhor Mundial de sua história. Neste domingo (6), na Liverpool Arena, a Ginástica Brasileira conquistou duas medalhas de bronze: com Rebeca Andrade no solo e Arthur Nory na barra fixa. Essas conquistas se somam ao ouro de Rebeca no individual geral.

Foi a melhor campanha do País em um Mundial. Antes, o Brasil havia conquistado duas medalhas em três competições: Stuttgart-2007 (ouro de Diego Hypolito no solo e bronze de Jade Barbosa no individual geral); Nanning-2014 (prata de Arthur Zanetti nas argolas e bronze de Diego no solo) e Kitakyushu-2021 (ouro no salto e prata nas assimétricas de Rebeca).

Rebeca se tornou a primeira ginasta do Brasil a conseguir medalhas em três aparelhos diferentes no Mundial. Falta apenas um pódio na trave – neste domingo, ela sofreu uma queda e ficou em oitavo lugar nesse aparelho. “Uma hora vai vir (a medalha na trave). Estou bem feliz com o que fiz”, disse a ginasta, que não sentiu interferência de uma outra música ao fazer sua série no solo. Ao que tudo indica, essa duplicidade de músicas só se fez notar pela transmissão da TV. “A minha música já tá gravada na minha mente, então faço a série com ela. Não ouvi uma outra música não”.

A nova Rainha da ginástica artística internacional, a campeã no individual geral, fez um balanço da competição. “Eu tô muito orgulhosa de tudo o que fiz neste Mundial, tanto no que se refere à competição por equipes como nas disputas individuais. Consegui minha primeira medalha no individual geral num Mundial, e ela foi de ouro. Sou a atleta mais completa do mundo, e isso me orgulha muito. Hoje também conquistei uma medalha no solo, finalizando com Baile de Favela. Na competição por equipes, fizemos história, conseguindo o quarto lugar. Estou muito feliz com esses resultados, porque a gente trabalha muito por eles. Mesmo com os erros – fazia muito tempo que eu não errava tantas vezes numa competição – consegui manter minha cabeça firme. Depois de cair na trave na classificatória, consegui competir bem nos outros aparelhos. É uma competição que me traz muita gratidão”.

A conquista no solo foi emocionante. Primeira a se apresentar, Rebeca cometeu alguns erros e obteve a nota 13.733 – na final do individual geral, havia alcançado 14.400. No decorrer da disputa, a brasileira foi superada pela norte-americana Jordan Chiles (13.833). Depois, outra ginasta dos EUA, Jade Carey, conseguiu nota idêntica, o que deixava as esperanças de medalha de Rebeca por um fio, porque ainda havia fortes adversárias para se apresentar. No entanto, os EUA entraram com recurso e, em vez de a nota melhorar, piorou para 13.733, a mesma de Rebeca. Por terem sido iguais também nos critérios de desempate, Carey e Rebeca foram ambas premiadas com o bronze. Última a se apresentar, a britânica Jessica Gadirova recebeu uma generosa nota 14.200 e ficou com o ouro.

Flávia Saraiva, que havia se classificado em primeiro lugar para a final do solo, voltou a sentir dores no tornozelo direito durante o aquecimento e não foi para a disputa. “Infelizmente, a gente está sujeita a lesões no esporte. Mas estamos muito orgulhos pela luta dela. Ela amadureceu muito”, disse Rebeca.

No último evento do Mundial, Arthur Nory, que havia se classificado em sétimo lugar para a final da barra fixa, também foi o primeiro a se apresentar. O campineiro executou muito bem a sua série, com raras imperfeições, recebeu a nota 14.466 e ficou na torcida. A nota de Nory só foi superada por dois craques da ginástica – o norte-americano Brody Malone (14.800) e o japonês Daiki Hashimoto (14.466). Dessa forma, o ginasta se consagra pela segunda vez em Mundiais – em Stuttgart-2019, foi campeão no mesmo aparelho.

“Essa medalha tem um significado muito grande para mim. O ano passado foi muito difícil, minha mãe teve um AVC hemorrágico. Ela me pediu uma medalha no Mundial anterior, mas não consegui. Espero que ela tenha feito os exercícios para poder pegar esta medalha com a mão direita, que foi a mais afetada”, disse o ginasta.

Nory fez também uma análise sobre sua evolução e da Seleção Brasileira. “Foi uma competição incrível, emocionante. Na última vez em que fui a uma final de barra aqui na Grã-Bretanha (Mundial de Glasgow-2015) eu fiquei em quarto, e agora sou o terceiro. Tô subindo, tô subindo. Mas o mais importante de tudo foi estar de volta entre os oito melhores do mundo. Todo esse processo até voltar a essa condição envolveu muito trabalho e esforço. Competir por equipe também é muito importante, acrescenta aos nossos ginastas mais jovens, acrescenta ao processo de renovação da Seleção. Isso é o que vamos levar aqui de Liverpool. E quero agradecer a todos da equipe multidisciplinar, pessoal da CBG, do COB, que nos ajudaram tanto”.

No salto, Caio Souza repetiu o resultado da classificatória na final, obtendo a quinta colocação, com a média 14.416. É a melhor colocação do ginasta fluminense numa final por aparelho do Mundial. Antes, sua melhor posição havia sido a sétima, na final das paralelas do Mundial de Kitakyushu, no Japão, do ano passado.

Ao final da competição, o melhor generalista do Brasil fez um balanço do Mundial. “Foi uma competição que trouxe muito aprendizado. Na competição por equipes, todos nós estamos de parabéns. A gente voltou ao cenário mundial ao conseguir classificação para a final (o Brasil terminou em sétimo). Isso é muito gratificante e valoroso. No individual geral, consegui meu melhor resultado, o décimo. Não saí contente, apesar de ter tido uma melhora de posição. Fiquei triste porque errei. Treinei muito para não errar, mas acontece no esporte. Hoje saio com a alma lavada por ter acertado os saltos. Estava competindo com o então campeão mundial (o filipino Carlos Yulo), o terceiro na olímpiada (o armênio Artur Davtyan), o Radivilov (ucraniano que já tem quatro medalhas em Mundiais e um bronze olímpico no salto). Estava bem difícil ali, mas saio com a alma limpa porque fiz o meu dever e acertei. Havia errado na final olímpica e na final do Mundial de 2018. Foi bem proveitoso este Mundial”.

Caio também comentou sobre a importância de emplacar várias finais de alto nível. “É importante os árbitros gravarem o nosso rosto. Ir com frequência para finais mostra consistência. E isso é um combustível para as próximas competições. Agora é voltar para casa, descansar e já pensar no próximo ano, quando teremos Mundial novamente”.

Análises. Coordenador-geral da CBG, Henrique Motta fez uma análise abrangente sobre o significado do Mundial de Liverpool para o esporte. “Esse é o Mundial com os melhores resultados para o Brasil. Pela primeira vez nós conseguimos 12 finais e, além disso, três medalhas. Até então, nosso melhor resultado eram duas medalhas. Nesta edição, tivemos pela primeira vez uma brasileira conquistando medalha de ouro no individual geral. Mas muito mais importante é a construção da Ginástica Brasileira, respaldada em muito respeito, em muita prosperidade, de pessoas que vão buscando um grupo cada vez mais forte. Isso leva a um resultado esportivo. O resultado esportivo não ocorre apenas a partir do momento em que o atleta sobe ao pódio. Ele é a consequência de todo um processo que é construído, e a nossa ginástica representa isso da melhor forma possível. Estamos muito orgulhosos desse time. Para mim é um orgulho muito grande fazer parte dele”.

O Coordenador da Seleção Brasileira de Ginástica Artística Feminina, Francisco Porath Neto, também fez um balanço positivo. “Claro que a gente nunca sai 100% satisfeito, mas o planejamento feito se revelou muito bem acertado. Chegamos aqui com uma equipe muito forte. Isso nós vamos repetir e levar para 2023, quando chegaremos com mais força ainda. Claro que perdemos uma peça importante, que foi a Flávia. Mesmo assim ela lutou e contribuiu com seu resultado nas paralelas. Quase conseguimos a classificação antecipada para a Olimpíada. E ela lutou até o final pela final de solo. 2023 será um ano mais importante ainda, e vamos com tudo. O importante é que conseguimos mais um resultado inédito, que é essa soma de três medalhas, e é por isso que lutamos. Não tem como não comemorarmos”.

 

 

 

 

RESULTADOS – FINAIS POR APARELHOS

 

BARRA FIXA

1) Brody Malone – (EUA) - 14.800

2) Daiki Hashimoto (Japão) – 14.700

3) ARTHUR NORY (BRASIL) – 14.466

 

SOLO FEMININO

1) Jessica Gadirova (Grã-Bretanha) – 14.200

2) Jordan Chiles (EUA) – 13.833

3) REBECA ANDRADE (BRASIL) e Jade Carey (EUA) – 13.733

 

TRAVE

1) Hazuki Watanabe (Japão) - 13.600

2) Elsabeth Blacj (Canadá) -  13.566

3) Shoko Miyata (Japão) – 13.533

8) REBECA ANDRADE (BRASIL) – 12.733

 

SALTO

1) Artur Davtyan (Armênia) – 15.050

2) Carlos Yulio (Filipinas) – 14.950

3) Igor Radivilov (Ucrânia) – 14.733

4) Gabriel Burtanete (Romênia) – 14.533

5) CAIO SOUZA (BRASIL) – 14.416

 

QUADRO DE MEDALHAS – GERAL

 

1) EUA – 3 ouros, 4 pratas, 1 bronze

2) China – 3,2,0

3) Japão – 2,3,3

4) Grã-Bretanha – 2,1,3

5) BRASIL – 1,0,2

6) Armênia – 1,0,1

7) Irlanda – 1, 0,0

7) Turquia – 1,0,0

9) Canadá – 0,1,1

9) Filipinas – 0,1,1

11) Alemanha – 0,1,0

11) Jordânia – 0,1,0

13) Bélgica – 0,0,1

13) França – 0,0,1

13) Ucrânia – 0,0,1

 

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