Da Redação (SP) - Não é algo inédito ver Bárbara Domingos fazer coisas inéditas. Dizer que ela faz história também está longe de ser novidade. Ela vem fazendo história ao longo deste ciclo olímpico. Nesta quinta-feira (24), escreveu mais um capítulo de uma trajetória já longa e memorável. Pela primeira vez, uma atleta da Ginástica Rítmica Individual do Brasil obtém vaga olímpica numa competição classificatória mundial. A talentosa paranaense de 23 anos de idade alcançou essa façanha na 40ª edição do Mundial de GR, disputado em Valencia, na Espanha.
A comunidade brasileira da GR sofreu bastante acompanhando os resultados. Depois de uma jornada inicial, na terça-feira, em que suas notas não foram muito altas (29.800 no arco e 32.100 na bola), Bárbara, com muita força mental, correu atrás e se superou, obtendo 31.700 nas maças (alcançou também final nesse aparelho) e 30.700 na fita. A meta era se posicionar até o 14ª lugar. Ao final de sua apresentação, ainda havia algumas atletas que não tinham completado as quatro séries. E aí a torcida para Babi se segurar entre as classificadas foi intensa. No final, Babi terminou justamente na 14ª posição. O resultado? A tão sonhada vaga olímpica veio dois anos depois de uma frustração imensa. No Pan-Americano de 2021, no Rio de Janeiro, Babi ficou em segundo lugar no individual geral, atrás da mexicana Rut Castillo, que levou a única vaga em jogo para a Olimpíada de Tóquio.
“Conseguir vaga num Campeonato Mundial é tremendamente significativo pra mim. Meu objetivo sempre foi esse. Desde que bati na trave e não consegui a vaga para Tóquio, eu estabeleci essa meta. Precisei ter muita resiliência neste ciclo. No final de 2021 tive que operar o quadril. Isso testou a minha determinação. Depois que me recuperei, levantei a cabeça e coloquei dentro dela que no Mundial de 2023 eu ia pegar minha vaga para Paris. O que eu sinto hoje é realização. Isso diz tudo”, resumiu Babi.
A conquista veio depois de outro feito inédito de Babi – ela conseguiu vaga na final de um aparelho num Mundial, algo que nenhuma brasileira havia alcançado até hoje. Bárbara se classificou em oitavo lugar na final das maças, com a nota 31.700.
“Isso mostra que as ginastas do Brasil têm potencial para se colocar entre as oito melhores. A gente ainda não fechou o ciclo. Teremos ainda neste ano os Jogos Pan-Americanos. Mas estamos quebrando barreiras, registrando feitos históricos. Isso é fruto de muito trabalho, de muito esforço. E isso é também consequência do investimento da CBG, que tem nos levado para fazer treinamentos em outros países, nos dado suporte em vários aspectos. Trabalhamos com treinadoras búlgaras, que são excelentes. O resultado disso tudo é uma evolução muito grande. Mas o nosso sonho não para. Depois dos Jogos Pan-Americanos, vamos focar na Olimpíada. A gente quer ficar entre as oito melhores lá, e não vai parar até conseguir”.
A treinadora Marcia Naves, ainda mais emocionada do que a própria ginasta, não se cabia em contentamento ao ver a pupila realizar seu sonho. “A Babi sempre disse que queria fazer história, deixar um legado. E ela tá fazendo. Primeira ginasta a chegar a final de Copa do Mundo, primeira ginasta a conquistar medalha em Copa do Mundo. Agora pegamos final e aparelho, estamos na final do individual geral e conseguimos vaga o-lim-pi-ca num Mundial. Isso tudo é pra lá de surreal, mas é tudo verdade. É fruto de trabalho e de amor. Nada que se faça sem amor dá certo. A gente tem muito amor ao esporte, e precisamos de tudo isso, precisamos de muita vontade. Este esporte é muito complexo. A gente precisa desenvolver várias qualidades, e juntamos tudo isso. Isso aqui vai incentivar muitas meninas do Brasil a acreditar que é possível conseguir o que conseguimos. É possível alcançar o topo. Digo isso daqui de cima”.
Cabe lembrar que a vaga conquistada por Babi cabe ao Brasil.
Somando 94.500 pontos, Bárbara se classificou para a final do individual geral na 14ª posição, que reúne as 18 melhores ginastas do mundo na soma das quatro notas. A capixaba Geovanna Santos, a Jojô, chegou perto. Alcançou o 21º lugar. Somou 92.000 pontos (32.150 no arco, 30.800 na bola, 30.400 nas maças e 28.050 na fita).
Ginástica Rítmica de Conjunto. Depois das fortes emoções desta quinta-feira, esta sexta é dia de torcer pela Ginástica Rítmica de Conjunto do Brasil, que viveu dias de apreensão desde o início da trajetória em Valência. Logo no primeiro treino, a capitã Maria Eduarda Arakaki torceu o tornozelo direito. Com o suporte do craque da fisioterapia Paulo Márcio P. Oliveira e da equipe médica, Duda conseguiu se recuperar. Nesta quinta, treinou em dois períodos, elevando a confiança do grupo num grande resultado.
A treinadora Camila Ferezin discorreu um pouco sobre a montanha-russa emocional dos últimos dias. “Nunca foi fácil pra gente. Vivemos dias de grandes desafios, mas ninguém desistiu nem largou a mão de ninguém em nenhum momento. Elas continuam confiantes e será assim até o final”.
Camila diz acreditar que a dura jornada em Valência fortaleceu ainda mais as suas combatentes. “Acreditamos que Deus dá as batalhas mais difíceis a seus melhores soldados. Desde o início deste duro momento, estamos ainda mais fortalecidas e unidas para mais esta batalha”.
Cinco vagas estarão em jogo. França, como país-sede, além de Bulgária, Israel e Espanha, classificadas pelo Mundial de Sófia-2022, já garantiram as suas. A vaga é atribuída pela posição na Classificação Geral, a soma das notas das séries mista e simples da etapa classificatória.
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