Treinadoras e atletas da GR dão mais detalhes sobre a conquista de Pesaro em entrevista coletiva

08.06.2022  |    453 visualizações

Grupo demonstra otimismo em relação ao Campeonato Pan-Americano depois de subir ao pódio na Copa do Mundo

Da Redação (SP) - Graças a uma coreografia inspirada em Charles Chaplin, o maior nome da história do cinema mudo, a qualidade da Ginástica Rítmica do Brasil falou alto na quadra da Arena Adriática e se fez notar como uma provável potência na modalidade. A trajetória rumo à conquista da medalha de bronze na Copa do Mundo foi narrada pelas integrantes da comissão técnica e pelas ginastas em coletiva realizada no Centro Nacional de Treinamento de Ginástica Rítmica, em Aracaju, nesta quarta-feira (8).

“A coreografia da série mista foi fruto de um start que eu tive. Quando estávamos indo para Tóquio, para disputar o Mundial (de Kitakyushu), eu sonhei com o meu pai (Lourival), que faleceu no ano passado. Escolhi a música Smile, do Charles Chaplin, e montamos a coreografia em cima dos movimentos dele. E isso fez toda a diferença. Desde a primeira apresentação, em Portimão, a gente foi vista, notada e elogiada pelo público e pelos árbitros. Lá em Portugal ainda cometemos alguns erros. E quando elas conseguiram executar essa coreografia sem grandes falhas em Pesaro, a gente conseguiu esse excelente resultado”, explicou a treinadora da Seleção Brasileira de Conjunto, Camila Ferezin.

A outra coreografia, a de cinco arcos, também apresenta um grande potencial para render bons resultados. Na qualificação, o Brasil conseguiu a nota 31.850 – se fosse repetida na final, seria suficiente para a conquista da medalha de prata. A coreografia foi montada com a música “Fantasia no Gelo”.

“Na fase de classificação da série de cinco arcos, eu disse a elas para acordarem o público, acordarem os árbitros, porque seriam as últimas a se apresentarem. ‘Acendam a luz!’. No geral (soma das duas coreografias), a gente ficou em quarto lugar”, disse Camila.

A capitã da Seleção, Duda Arakaki, confessa que ainda não tem clara noção de toda a dimensão do feito alcançado pela equipe. A medalha de Pesaro foi a primeira da história da GR brasileira numa etapa de Copa do Mundo de nível 1 – a outra conquista, a de Minsk, em Belarus, em 2013, foi na série Desafio (FIG World Challenge Cup), que não tem um nível tão elevado.

“Ainda não caiu a ficha para nós. Sempre foi um sonho. A gente sempre acreditou muito. Mas quando pisamos no pódio, vendo que realmente aconteceu, sabendo que representamos cada ginastinha do Brasil, para nós teve um significado muito especial. Desde crianças, sempre quisemos levar o nome do Brasil ao mais alto grau de potência mundial, assim como é a nossa Ginástica Artística, com a Rebeca, com o Zanetti, com o Caio. A gente trabalha muito. Pra Camila e pra Bruna (Martins, assistente técnica), deve ter sido ainda mais especial, porque elas fazem um trabalho de muitos anos. E era disso que a gente precisava. A gente continuou neste ciclo, querendo ser ainda melhores. A gente vem aqui, treina muito. Poder ver essa evolução, ver que estamos sendo respeitadas lá fora, foi muito emocionante. Por isso que a gente não acreditava. A gente olhava pra medalha e chorava. Vimos que é possível e queremos mais.

Desde o ano passado, quando a gente conseguiu uma final no Mundial pela primeira vez na história, a gente já projetava grandes coisas para este novo ciclo. A gente não achou que iria conseguir tão cedo, logo no início do ciclo, já fazer história. Mas deu tudo certo. Agora vamos continuar firmes para as próximas”, disse a capitã.

Deborah Medrado, uma das remanescentes do ciclo anterior, endossa a percepção de que o Brasil passará a ser visto com outros olhos pela arbitragem graças à conquista de Pesaro. “Quando a gente consegue um resultado inédito, todo mundo fica ‘ah, meu Deus, o Brasil conseguiu chegar lá’. A gente olhava para os outros países que conseguiam e a gente sonhava que um dia iria conseguir também. Como a Camila falou, o artístico é o nosso forte, e esse é um ponto muito importante no novo código de pontuação. Na vigência dos outros códigos a gente já se destacava pelo artístico, mas agora recebemos uma nota específica para isso. Esse foi um reconhecimento dos árbitros, de que nossas coreografias estavam belíssimas, que era uma poesia e que a gente conseguia representar isso. Com certeza, capricharemos cada vez mais para sermos bem vistas e conseguirmos outros resultados inéditos para o nosso País”.

A assistente técnica Bruna Martins falou mais sobre a importância do trabalho artístico para o Brasil. “Há muitos anos a gente trabalha embasada no artístico. Por muitas vezes o artístico nas nossas séries foi referência na FIG e utilizado como exemplo. Quando soubemos que isso seria mais valorizado pelo código, focamos ainda mais nesse trabalho e fomos muito pontuais e assertivas no momento de montar essa coreografia, trazendo para a nossa linguagem brasileira aquilo que a música estava transcendendo e querendo passar. As meninas souberam incorporar isso muito bem. Elas se dedicaram muito aos treinamentos e à montagem, facilitando o nosso trabalho”.

Outra “veterana” do grupo, Nicole Pircio, destacou que a forte presença do público em Pesaro será especialmente válida como experiência preparatória para a disputa do Campeonato Pan-Americano do Rio. Esperam-se muitos torcedores também na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca.

“Vai servir sim. Eu particularmente gosto muito de competir com esse calor do público. Gosto muito de pisar na quadra e sentir essa energia dos torcedores. E aqui no Brasil, que tem a melhor torcida, imagino que vá ser ainda melhor. Isso vai ajudar a gente a fazer a melhor série que a gente pode fazer”.

A propósito do Pan, Bárbara Galvão diz acreditar na possibilidade de o Brasil ser vitorioso em cada uma das duas séries e, por consequência, no geral. “A gente quer agora arrumar tudo nas nossas séries, ver o que está valendo e o que não está. Queremos conseguir mostrar nossas séries e cravá-las. Acredito que a gente pode conseguir o ouro nas duas séries no Pan e sermos as primeiras colocadas no geral”.

Giovanna Oliveira Silva, convocada para a Seleção Brasileira em 2021, também vê o Brasil como favorito no Pan. “Os árbitros viram que fomos ao pódio numa Copa do Mundo. Agora vamos trabalhar para elevar o nível de dificuldade das nossas séries. Tudo isso é um combo pra gente poder chegar bem ao Rio”.

A catarinense Beatriz Linhares vai mais além e vê o Brasil com chances também de ser finalista em mais um Mundial. O deste ano será em Sófia, na Bulgária, em setembro. “Nossa meta mais imediata é o Pan, mas também queremos pegar finais no Mundial. Já vão começar as classificatórias para os Jogos Olímpicos de 2024. Este ano se garantem os três primeiros no Mundial. E depois haverá mais vagas. Queremos tentar a vaga no Mundial para não passarmos o sufoco de depender do Pan pra garantir a vaga olímpica”.

Climatização do ginásio. Em suas considerações finais na coletiva, Camila Ferezin pediu ajuda para que se concretize o sonho da climatização do Centro Nacional de Treinamento de Ginástica Rítmica. “A gente está no ginásio no dia a dia e não é fácil o calor que passamos numa cidade quente como Aracaju. Há 11 anos nós lutamos pela instalação do ar-condicionado. Pedimos muito por isso porque o rendimento da nossa seleção vai melhorar muito com a climatização do nosso ginásio”.

Segundo a presidente da CBG, Luciene Resende, a verba para a realização da benfeitoria já foi transferida da Secretaria Especial do Esporte para o Governo de Sergipe. “O mais difícil já foi conseguido que foram os recursos transferidos pelo Governo Federal através da Secretaria Especial do Esporte. Sabemos que é necessário fazer a licitação, das dificuldades do percurso. Mas a gente pede ao governo do Estado para que se empenhe, porque essa climatização vai contribuir para a performance das nossas ginastas”.

Por fim, Luciene agradeceu o empenho de todos que tornaram possível a conquista em Pesaro. “Quero agradecer pelo trabalho e dedicação de todos os membros da comissão transdisciplinar, às treinadores e às ginastas por esse grande resultado, que significa tanto para o nosso esporte”.

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